A mulher que redigiu sua própria história
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Postagem de desabafo sobre os ataques de hatters que autora sofreu após promover seu livro nas redes sociais



Polliane Oliveira utiliza seu talento para a escrito e sua influencia na internet para tratar contribuir com a liberdade sexual, quebra dos padrões estéticos e empoderamento feminino. FOTOS: Arquivo pessoal
Polliane Oliveira sempre teve o dom para a escrita. Aos dez anos de idade, criava cartas românticas em papéis decorados para vender na escola. A atividade também era muito promovida pela mãe, que sempre a presenteava com cadernos e dizia: “escreve filha, bota pra fora escrevendo”.
Todo esse estímulo fez com que Polliane se tornasse uma adulta com dois livros publicados: O livro A Escolha: Quando tudo acabar, um romance fantasia e o livro Mulheres gozam, um livro que trás que aborda a sexualidade e a falta de prazer feminino . Hoje ela utiliza as palavras para promover o empoderamento feminino. Mas nem sempre foi assim, ela já esteve no lugar de quem precisava de ajuda.
No seu primeiro casamento, Polliane foi vítima de violência de doméstica e quando não teve coragem de denunciar ou buscar apoio, expressava seu sofrimento escrevendo. “A escrita me ajudou nesse ponto de extravasar esses sentimentos, por outro lado me fez não contar muitas coisas do que eu estava vivendo porque eu tinha vergonha, mas escrevendo era muito fácil.”
Ela começou a se relacionar com seu primeiro marido quando tinha de 14 para 15 anos de idade e aos 17 estava grávida. A autora relata que um pouco antes da gravidez já tinha sofrido as primeiras agressões e após o nascimento de João os ataques foram se intensificando. Após um ano e alguns meses, estava grávida novamente aguardando para dar a luz a sua filha Maria.
O relacionamento altamente abusivo durou cerca de 9 anos e se encerrou quando Polliane começou a entender que aquela situação não fazia sentido. Ela se preparou e fugiu de casa com os filhos. Após vencer a batalha contra o agressor precisou enfrentar outro obstáculo: o de recomeçar.
Voltou para casa da mãe com seus dois filhos, o que para uma família humilde do Nordeste era visto como retrocesso. Não se deixou abalar , foi em busca de emprego e em pouco tempo começou a trabalhar como vendedora. Para Poliane esse foi um ponto crucial para se libertar totalmente do antigo relacionamento:
“Quando eu comecei a comprar as coisas dos meus filhos, comecei a pagar o que eles precisavam, a pagar a creche tudo isso foi me dando mais força. Eu diria que essa liberdade financeira foi o que me manteve de pé, foi quando eu comecei a entender que não tem como
a gente ser livre se não for livre financeiramente.”
Com a nova vida em andamento, começou a compartilhar suas experiências e seus textos na internet. Hoje ela fala sobre um pouco de tudo: relacionamentos abusivos, maternidade, sexo, autoestima e empoderamento feminino, assuntos que, segundo Polliane, estão interligados.
Uma das primeiras tentativas compartilhando suas experiências, ainda no começo do seu Instagram, foi um sucesso. Percebendo que em determinadas posições sexuais produzia um barulho conhecido como “PUM VAGINAL”, resolveu compartilhar essa situação com suas seguidoras a fim de saber se todas passavam por essa situação e o que achavam disso.
Ao comentar com o marido, ele se mostrou um pouco resistente com a exposição, mas ela foi em frente e criou uma publicação. Escreveu um texto e produziu uma imagem em que destacava a frase: PUM VAGINAL.
Em pouco tempo a publicação viralizou e passou a receber inúmeros comentários de outras mulheres relatando que tinham muita vergonha e achavam que eram as únicas que passavam por aquela experiência. ‘‘Olha só, às vezes, compartilhar uma experiência que você teve em determinada situação que você viveu pode também ajudar muitas mulheres. ‘’
A INTERNET E O LIVRO
O trabalho de Polliane na internet surgiu de uma inquietação: Se nós formos comparar que as maiores partes das mulheres não estão dentro do padrão, nós temos mais de 50% da população que não estão dentro dos padrões, nós não somos minoria, nós somos maioria.
Só que dentro das redes sociais nós temos mais mulheres falando sobre o padrão, sobre entrar nesse padrão e fazer parte disso. Quando passou a sentir não representada decidiu se aventurar e criar o seu próprio Instagram.
Começou de forma tímida, publicando frases, mas logo decidiu que deveria aparecer “Essas mulheres precisam me ver, eu preciso expor não só o que eu sinto, mas eu preciso expor o meu corpo para que elas vejam no meu corpo o seu próprio reflexo e a gente consiga trabalhar isso juntas”.
Ela conta que seus compartilhamentos no Instagram sempre foram reais, tanto o corpo, a aparência e as experiências, quanto os sentimentos e a sua relação com a autoestima. Polliane comenta que mesmo trabalhando com o tema, nunca está 100% do tempo com a autoestima alta e deixa claro para a suas seguidoras que vem construindo sua autoestima diariamente.
Antes de escrever o livro “Mulheres Gozam”, Polliane já havia publicado um romance chamado a “A escolha”. A opção de começar a escrever sobre temas ligados à empoderamento feminino e sexualidade vem muito da sua experiência de vida e também como uma extensão do seu trabalho na internet.
Quando eu comecei a trabalhar com mulheres e entender que era um universo que que tinha como me aprofundar muito, como entrar de cabeça em várias possibilidades desse universo e também olhando as redes sociais e fazendo um comparativo de quão pouco tinha mulheres falando sobre isso.
O TRABALHO DE ESCRITORA NO DIA A DIA
Como mãe e trabalhando em casa, Polliane não precisa se dedicar totalmente à maternidade e nem sofre com o acúmulo de tarefas. Em 2016 quando começou a trabalhar com o projeto do livro, seus filhos já eram adolescentes e não necessitavam de dedicação exclusiva.
Pelo contrário, a autora conta que tanto seu marido quanto seus filhos cooperam com seus projetos e dividem as tarefas de casa. Um dos maiores obstáculos que a autora enfrenta é com concentração:
“Ligou a televisão me desconcentra, aumentou alguma coisa me atrapalha, os cachorros vêm aqui por perto e pronto, já perdi o fio da meada e não consigo mais seguir o raciocínio”. Porém conta que consegue resolver a situação deixando um fone de ouvido com cada um deles ou com um bom grito, quando necessário.
Sem dúvidas o principal desafio dessa empreendedora se deu fora de casa. Quando decidiu se dedicar ao livro, pediu demissão do antigo trabalho e em pouco tempo se viu com 2 mil livros em uma caixa; foi quando ela começou a sofrer na pele a crueldade do mercado de vendas.
“É difícil você vender o seu próprio sonho para outra pessoa, você compraria sua própria obra milhões de vezes, mas você convencer as outras pessoas de que o que você está abordando é necessário, é importante, é uma missão difícil.”
Como a única integrante da equipe e responsável por todas as partes do projeto após escrevê-lo, Polliane foi atrás das vendas e visibilidade. Como já fazia um trabalho nas redes socais seguiu convicta de que encontraria seu público ali, enviou entre 50 a 80 livros para proprietários de perfis famosos na esperança de ter um retorno em vendas, porém não foi sequer citada por eles.
“Eu estava trabalhando nas redes sociais e falei ‘meu público, ele tá aqui dentro, são essas mulheres que estão aqui dentro eu preciso fazer com esse livro acesse elas com que elas cheguem até elas’, mas eu tinha uma dificuldade em vender essa ideia, então eu comecei a enviar esses livros para famosos né, para pessoas que eu pensava assim:
“eles vão ver esse livro vão perceber o quão é importante falar sobre isso e vão me ajudar, vão me impulsionar, vão divulgar o material” e assim eu enviei por baixo assim de 50 a 80 livros só pra pessoas mais influentes mas nunca ninguém falou nada.”
Após perceber que sua principal estratégia não daria certo resolveu investir nas feiras literárias: criou um banner e seguiu para a feira com 200 livros convicta de que conseguiria chamar atenção do seu público:
“sentei na mesinha espalhei os livros, passei uma hora ninguém as pessoas só olham de longe as pessoas tinham muita resistência em segurar o livro na mão em serem vistas com um livro daquele tema na mão.”
Sem sucesso com sua segunda estratégia e com mais de 1000 livros em casa, resolveu focar no seu principal objetivo: ajudar outras mulheres. A autora conta que no meio da feira pediu que sua mãe e sua filha a ajudasse a distribuir gratuitamente os livros, elas passaram a abordar as mulheres e dizer:
‘’Olha esse aqui é um livro que eu escrevi sobre uma problemática que nós vivemos e eu quero te presentear com ele!’’ a atitude foi bem aceita e os 200 livros se esgotaram em pouquíssimo tempo.
‘’Eu sai daquela feira convicta de que o propósito não era eu ganhar dinheiro com aquele material, mas sim ajudar outras mulheres. O meu intuito dentro das redes sociais e dentro de tudo que eu faço sempre foi esse!
A partir daí a autora passou a falar mais sobre o livro em seu perfil no Instagram e foi quando um grupo de amigas compraram cinco exemplares! Animada com a venda, Polliane decidiu fazer uma foto contando sua trajetória como empreendedora e teve uma ideia de estratégia para aumentar suas vendas:
“As pessoas querem comprar aquilo que tá bombando, ninguém quer comprar o que ninguém quer. E aí eu falei assim espalha os livros na mesa porque aí quando as pessoas olharem a foto vão falar: ‘a Polli tá vendendo bastante, quero comprar também’”.
A postagem teve um bom alcance na internet, mas chamou atenção também de algumas pessoas que não aceitavam a ideia que o livro e Polliane promoviam e passaram a ridicularizar a autora na internet.
A polêmica chamou a atenção de todo tipo de gente: alguns para ajudar a disseminar as agressões e os discursos de ódio, mas muitos que apoiaram a autora, se interessaram pelo trabalho dela e compraram o livro.
Foi uma jornada longa com muitas estratégias malsucedidas, enfrentamento de ódio e agressões pelo caminho. Hoje, em meio a pandemia de COVID-19, Polliane pode se orgulhar de suas vendas e por conseguir se comunicar com quase 200 mil pessoas no seu perfil do Instagram.

Postagem que contribuiu para que o perfil de Polliane no Instagram passasse a ter mais seguidoras
